Paixão Mortal

Foi a última vez que atravessou a avenida distraído,pensando nos peitões da Lindalva.

Revanche

Esfregou sua “felicidade” na cara do outro, sedenta por lhe dar o troco. Qual não foi a sua frustração quando constatou que apenas o livrara da consciência pesada.

Pelos olhos do amor...

Não gostava de lavar louças. Pratos e panelas acumulavam-se sobre sua pia. Quando,finalmente os lavava,edificava pilhas impossíveis sobre o escorredor de pratos. Aos olhos da sogra,uma relaxada. Aos,do marido apaixonado,uma escultora...

O Alfinete

Sua desgraça começou quando sua majestade sentou-se no trono e espetou o traseiro num esquecido alfinete de cabeça. Perdeu a sua, duas horas depois. Guilhotinado em praça pública, o pobre costureiro do rei.

Perfídia

Passou a geléia nos dois lados da torrada,como ele sempre exigia. Antes,porém,adicionou ao pote do doce as funestas gotículas. Sentou e esperou.

A Infância de cada um

Tinha apenas duas bonecas. Sentada em sua cama com as pernas cruzadas penteava uma delas. Espalhados ao seu lado,vestidinhos coloridos,sapatinhos,acessórios. Conversava com as bonecas,fazia estorinhas. O corpo franzino,mirrado para os seus treze anos. Soprava o cabelo da testa,pois as mãos estavam ocupadas criando fantasia.

Aquela que a pôs no mundo bate na porta com força - Vamos,menina! - ela olha para o despertador sobre o criado-mudo. Dez e meia,hora de ir para a cama. Mas não a sua.

Veste o top e a mini-saia,passa na boca de menina o batom vermelho. Apanha sobre a mesa da cozinha os trocados para pagar o ônibus que a levaria até à beira da estrada.

Hiato

Entre o primeiro e o último olhar pela vasta planície,passou-se toda uma vida.Morreu esperando pelo grande momento. O momento em que sua vida,finalmente,faria sentido.